Largando Mente-Corpo

Largando Mente-Corpo

1) O corpo tem um formato, limite e peso?

2) O que é "corpo"?

[http://www.uncoveringlife.com/emotions/]

Depois de termos desconstruído a noção de uma [realidade objetiva](http://www.uncoveringlife.com/objective-reality/ "No Objective Reality"), agora é a vez de avançar pelos destroços e afastar quaisquer estruturas conceituais que ainda restam e que nos fazem perceber a realidade erroneamente. Uma dessas noções é a de contenção.

Nós pensamos que emoções existem *dentro* do corpo, mas não. Sentimentos não estão 'nas vísceras'. Olhe para a sua experiência direta - você experimenta os sentimentos como existindo 'dentro' do corpo? Não é o corpo em si uma sensação? Não há meramente algumas sensações flutuantes presentes, algumas que você chama de 'o corpo' - mas que elas mesmas não contém outras sensações? Você já experimentou uma sensação contendo outra?

Sensações não existem uma dentro da outra. Uma sensação de sentir não surge dentro de outra sensação de sentir. Uma sensação visual não surge dentro de outra sensação visual - ou dentro de um som ou sensação de toque. A nossa ideia de um 'corpo' contudo, é fundamentalmente dependente deste tipo de sensações agrupadas - já que uma única sensação momentânea não é o que imaginamos quando nós *pensamos* do nosso corpo. Ao contrário, as nossas mentes conjuram uma multiplicidade de sensações—visuais, auditivas, táteis e emocionais— que juntas parecem formar o objeto físico que chamamos 'corpo' - que seria o objeto que 'contém' todas essas sensações.

Mas tudo isso está acontecendo apenas em pensamento. Na realidade, *não há um verdadeiro 'container' de sensações.* O único referencial na vida real que nós poderíamos ter de um 'container' seria a sensação em si mesma – e sensações não poder existir 'dentro' umas das outras. [Sensações não são nada além do seu _experimentar_](http://www.uncoveringlife.com/non-dual-consciousness/ "Consciousness is non-dual") – e *experimentar* não pode existir 'dentro' de *experimentar*.

Quando nós finalmente percebemos que este modelos do corpo 'como um container de sensações' não é representativo de nada em nossa experiência direta, nós podemos largar finalmente a noção de que contenção é um modelo viável do que de fato está acontecendo. Pensar em termos de contenção não é baseado na nossa experiência direta – é baseado no [modelo universal de realidade](http://www.uncoveringlife.com/enlightenment-what-it-is/ "Enlightenment: What It Is And How To Get It")

em que os objetos são fisicamente contidos por outros objetos.

Nós acreditamos que pensamentos estão literalmente em nossas cabeças e que emoções estão de fato *dentro do corpo* – e estas crenças fazem parecer que isto é verdade na nossa experiência direta. Mas tendo nos livrado destas crenças no sentido objetivo, nós precisamos agora investigar para ver se elas se encaixam com o que nos é dado pela nossa experiência direta.

Então observe por si mesmo, neste momento.

Os pensamentos estão *dentro* da sua cabeça? Os pensamentos surgem *dentro da sensação que chamamos 'cabeça?'* E as emoções são experimentas como estando *dentro* do corpo? Não é o corpo em si mesmo meramente uma sensação?

Pensamentos apenas parecem vir das nossas cabeças porque nós acreditamos que eles vêm. Mas se você imaginar os pensamentos vindos de, digamos, a barriga (tente colocar a sua atenção na sua barriga e 'pensar pensamentos') você verá que logo *começará a parecer que eles vêm* – o que demonstra que 'contenção' é algo imaginado ao invés de fatual.

Pensamentos parecem surgir de onde quer que seja que nós acreditemos que eles surjam. Para início de conversa, largue a suposição de que eles são localizados, e os pensamentos simplesmente param de surgir *de algum lugar em particular* – e ao invés surgem sem estarem localizados em lugar nenhum.

Nós também sentimos que, por exemplo, a sensação tátil da nossa mão está 'dentro' da sensação visual correspondente daquela mão. Isto é, eu observo a minha mão e parece que é como se a sensação dela estivesse dentro dos limites visuais que compõem o contorno da minha mão. Mas quando eu investigo mais de perto, eu descubro que este não é o caso – a sensação da mão é meramente uma sensação flutuante que não está localizada dentro do campo visual de forma alguma. É apenas um *pensamento* que sugere que ela está.

É fácil de acreditar quando nós olhamos para baixo e vemos a nossa barriga, que emoções existem *ali* – mas ali *aonde*? Esta barriga não é nada além de uma sensação visual. – e emoções não existem 'dentro' de sensações visuais. Emoções existem por si mesmas, incontidas por qualquer outra sensação, seja visual, tátil ou de qualquer outra forma.

Ao enxergar que nada está contido na experiência direta, nós perdemos gradativamente a habilidade de acreditar que nós realmente experimentamos objetos, tal como o próprio corpo, o que é um passo gigante rumo a liberação do conhecimento de 'Eu sou' como sendo ligado a um objeto – para ao invés permitir com que o senso de ser se expanda e engloba por completo o campo da experiência—*igualmente e neutralmente—já que as sensações da realidade na ausência de containers são claramente revelados como um todo unificado*

Mas indo além disso, nós precisamos realizar que em última instância não há sensações. 'Sensações' não são nada além de sua experimentação—elas não são 'algo' que é *conhecido—mas o que sensações são em verdade última* não é nada além do seu conhecimento(er) momentâneamente subjetivo.

E *conhecer* não é alguma 'coisa,' alguma entidade positiva que se situa dentro de uma realidade maior – não, *conhecer é tudo o que há na realidade como tal* e 'ela' não é coisa alguma – é um negativo puro, a própria ausência de objetividade, e não é outro se não o nosso próprio ser. Não um_ser, além_de_sendo.

Não-objetivamente, aquilo não pode ser 'conhecido.'

Não-positivamente, aquilo não pode 'existir.'

'aquilo' apenas pode ser.

...

Gary escreveu no Dharma Overground em 2009, "Na meditação andando o "eu" aparece para colocar ou fazer sentido na percepção sensorial. Isto envolve uma imagem corporal por exemplo as sensações dos pés são percebidas como estando no pé, o movimento é percebido em relação à posição anterior. Uma vez em meditação caminhando o meu corpo desapareceu, então havia apenas as sensações de toque dos pés pertencendo e indo para lugar nenhum. Isto descreve o direto sem intermediário?

John Tan respondeu, "Sim Gary, o que você disse está correto. É apenas uma questão de profundidade e intensidade, ex, o quão claro, quão vívido, quão real, quão imaculado as sensações de surgimento e desaparecimento são quando comparados com "EU SOU". No caso de "EU SOU", é tão claro, tão real e tão imaculado que pulverizaram todos os traços de dúvida. Absolutamente certo, calmo e sem pensamento que até mesmo Buddha é incapaz de abalar o praticante desta Realização direta de "Eu-ser".

A propósito, não deve haver nenhuma 'imagem' em qualquer experiência, portanto, direta.

A respeito do "desaparecimento do corpo" que você mencionou, tem a ver com uma experiência chamada o "largar de mente-corpo". Há mais alguns pontos importantes que você pode querer anotar:

1. Não é só devido a "concentração nas sensações, a imagem corporal não tem oportunidade de surgir", o insight de que mente e corpo são meros construtos também precisam surgir e o desaparecimento também é resultado da dissolução desses construtos.

2. O largar de mente-corpo também precisa vir com um senso de leveza. Nos poucos primeiros vislumbres, você também se sentirá sem peso e quando a experiência se tornar clara, você também irá perceber o "peso" desses construtos.

3. A partir dos construtos, você também pode querer explorar adiante o que acontece quando o construto de "dentro/fora" desaparece.

Por fim, a prática de autoquestionamento não é sem perigos. Um praticante também pode ser levado a um estado de confusão completa quando explorando o 'eu' através de mero processo analítico. Então pratique com cuidado."

Contudo, tome nota de que a dissolução do senso de corpo também pode ocorrer como uma experiência de pico em meditação profunda ou samadhi. isto não é o mesmo que o largar de mente-corpo que ocorre como resultado da sabedoria penetrante e insights que desconstroem todas as fronteiras construídas e artificiais, formas, e solidez de um corpo e mente. O largar de mente-corpo da sabedoria pode ser uma experiência 24/7, enquanto que a dissolução de senso corporal de uma experiência de pico ou estado de samadhi é curta e temporária.

"...Hoje em dia eu estou sendo muito mais somático, onde não há senso de eu mas meramente sensação, e até mesmo a designação de corpo de sangue e carne transcende em mera sensação de pé tocando o chão, movimento corporal, fluir de energia, respiração fluindo e abdômen expandindo, sensação de mãos tocando em objetos ou ou guidão de bicicleta, etc; Uma consciência corporal completa. Todos os sentidos são brilhantes, luminosos, diretos. Presença é só isso." - Soh, 2019

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no Guia ATR.

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